Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
Com Sam Raimi na direção, o filme se consagra como uma das obras mais autorais do MCU
Após o sucesso relativamente mediano do primeiro filme, “Doutor Estranho” (2016), Kevin Feige mexe os pauzinhos e traz para o Universo Cinematográfico Marvel um dos diretores responsáveis pelas primeiras grandes adaptações de heróis para o cinema: Sam Raimi.
Para quem não sabe, Raimi foi o diretor dos primeiros filmes do Homem-Aranha com Tobey Maguire, lá em 2002, época em que a Marvel estava quebrada e os direitos de seus principais personagens foram licenciados para outros estúdios, como X-Men para a Fox e Homem-Aranha para a Sony, que até hoje mantém contrato. Aliás, esse é o motivo de, em pleno 2022, termos que aguentar as adaptações dos vilões do cabeça de teia no cinema, como “Venom” e “Morbius”…
Sam Raimi traz novos ângulos, enquadramentos e ritmos que são marcantes em seus filmes. São elementos que se misturam com suspense e terror – inclusive, algumas cenas de mortes podem pegar alguns fãs desprevenidos. O humor ácido e com ironia (muitos fãs podem se incomodar com o tom que foi usado sobre os Illuminati, por exemplo) marcam também essa nova fase que tantos criticam sobre a “Fórmula da Marvel”. Aliás, que bom que esse filme foge deste contexto e prepara para uma nova fase do MCU.
Danny Elfman, parceiro de Raimi nos antigos filmes do Homem-Aranha e veterano nas trilhas de filmes de heróis – inclusive, responsável pelo melhor tema do Batman até hoje (Batman 1989) – traz um tom pesado, com guitarras e uma sensação aventuresca, misturando tudo isso ao mesmo tempo.
Em conjunto, esse clima autoral do diretor pode pesar nas estranhezas do público médio, que não está habituado com esse novo/velho olhar para os personagens em quadrinhos. Existe uma evolução na construção de Stephen Strange, que carrega as consequências de suas atitudes em “Guerra Infinita”. Dores e amores são explorados de forma para que a evolução, finalmente, chegue para ele se tornar o Mago Supremo.
Dividindo o protagonismo, Wanda Maximoff/Feiticeira Escarlate foca na sua construção e nas ações após a série “WandaVision”. É super necessário você ter assistido à série para compreender suas decisões. São atitudes compreensivas, mas também controversas, que levam a Feiticeira de heroína a vilã.

Dos quadrinhos para o cinema
Um dos grandes desafios de “Boné” (apelido carinhoso que os fãs deram a Kevin Feige, presidente da Marvel Studios) será manter todas essas histórias amarradas por tanto tempo. Afinal, estamos falando de um universo cinematográfico que começou lá em 2008. E se torna inevitável que, com o tempo, qualquer desavisado que não esteja acompanhando fique perdido no enredo.
Mas é claro que, depois de tanto tempo e uma quantidade gigante de filmes, o “desavisado que lute”. Afinal, “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” é, sim, uma continuação do primeiro filme de 2016, mas também das séries “WandaVision”, “Loki” e “What If…?”, o que é um processo natural. Os filmes são episódicos e todos fazem parte de um contexto, além de ser uma estratégia do próprio estúdio para manter todas essas pontas amarradas e com conteúdo dentro de suas plataformas.
O filme, de certa forma, inicia de vez a fase quatro do MCU, explorando agora com melhor clareza o Multiverso, que começou na série do Loki, mas que ganhou seu ápice no filme “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, quando o conceito se massificou. Agora, “Doutor Estranho” prepara o cenário para uma das sagas mais aclamadas dos fãs de quadrinhos: Guerras Secretas.
“Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” é um filme incrível, com tudo o que Sam Raimi pode trazer de melhor e, de certa forma, causa uma estranheza para o universo Marvel, o que é excelente!
Talvez seja exatamente disso que a fase quatro precisa, e, como o próprio personagem diz, o Doutor Estranho é conhecido por quebrar regras em sua loucura, e o título do filme faz jus ao contexto. Que a Marvel entre de cabeça nessa loucura!
“Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” está em cartaz nos cinemas. Futuramente, ainda sem data, também entrará no catálogo do Disney Plus.